Já ouviu dizer que “a dor nem sempre começa onde dói”? Esta frase vai muito além da metáfora, traduz uma ligação profunda entre o nervo vago, a inflamação e a dor crónica, um trio invisível que reflete a forma como o corpo e o cérebro comunicam entre si.
A evidência científica tem vindo a demonstrar que estes três elementos estão profundamente interligados. Perceber esta relação é fundamental para quem procura alívio sustentado da dor, recuperação tecidular e harmonia no funcionamento do organismo.
A inflamação e o nervo vago: onde tudo começa
A inflamação é uma resposta natural do organismo, uma reação de defesa perante lesões, infeções ou outras ameaças. A inflamação aguda, é um processo essencial à reparação e cicatrização dos tecidos.
Contudo, quando se prolonga no tempo e se torna crónica, deixa de ser protetora e transforma-se numa fonte de desequilíbrio e amplificação da dor.
Os tecidos inflamados tornam-se mais sensíveis, os recetores nervosos ficam hiperativos e o sistema nervoso entra num estado constante de vigilância, contribuindo para a manutenção da dor persistente.
A ponte neuroimunitária: o nervo vago
Neste cenário, o nervo vago tem um papel fundamental.
É uma das principais vias de comunicação entre o cérebro e o sistema imunitário, funcionando como um mediador que ajuda o corpo a autorregular-se.
Quando ativado, o nervo vago deteta sinais inflamatórios e envia ordens para modular a resposta imune, ajudando o organismo a regressar ao seu estado de equilíbrio.
Este mecanismo é conhecido como via colinérgica anti-inflamatória, mediada pela acetilcolina — uma substância que inibe a libertação de citocinas pró-inflamatórias.
Em termos simples: quanto mais ativo está o nervo vago, menor é a inflamação e maior é a capacidade do corpo de recuperar de forma natural.
Nervo vago, inflamação e dor: um ciclo recíproco
A inflamação torna os recetores nervosos mais sensíveis, fazendo com que o organismo reaja de forma amplificada a estímulos que, de outro modo, poderiam ser inofensivos.
Com o tempo, essa hipersensibilidade gera um estado de vigilância permanente, em que o corpo “aprende” a sentir dor com mais facilidade.
Paralelamente, um tônus vagal reduzido, ou seja, uma menor atividade do nervo vago, enfraquece o controlo sobre essa resposta, permitindo que a dor se mantenha de forma persistente.
Por essa razão, estratégias que aumentem a atividade vagal são fundamentais no tratamento e na prevenção da dor crónica.
O papel da Osteopatia na modulação do nervo vago e do eixo imunitário
A Osteopatia desempenha um papel fundamental na regulação do equilíbrio entre o corpo, o sistema nervoso e o sistema imunitário.
Através de toques suaves, precisos e conscientes, o osteopata estimula recetores cutâneos e proprioceptivos que enviam sinais de segurança ao sistema nervoso central, promovendo respostas vagais — essenciais para a recuperação e autorregulação do organismo.
Este processo contribui para:
A redução da atividade simpática, associada ao stress, à tensão muscular e à hiperatividade do sistema nervoso;
O aumento do tônus vagal, que favorece estados de relaxamento, tranquilidade e estabilidade fisiológica;
A restauração do equilíbrio neuro-imunitário, promovendo uma menor resposta inflamatória e uma perceção reduzida da dor.
Mais do que uma técnica manual, a Osteopatia atua como uma linguagem subtil de comunicação com o sistema nervoso, facilitando o retorno do corpo ao seu estado natural de equilíbrio e bem-estar.
O que a ciência tem demonstrado
A evidência científica tem vindo a demonstrar, de forma cada vez mais consistente, a estreita relação entre a estimulação do nervo vago e o alívio da dor crónica. Este nervo, que estabelece uma via direta de comunicação entre o cérebro e os principais órgãos do corpo, desempenha um papel essencial na regulação dos sistemas nervoso e imunitário.
Os estudos mostram que o nervo vago atua como um mecanismo de modulação da inflamação, influenciando a forma como o organismo reage à dor e ao stress. A sua estimulação tem-se revelado eficaz na redução da resposta inflamatória e na normalização da perceção dolorosa, abrindo novas perspetivas terapêuticas para pessoas com dor persistente ou condições inflamatórias crónicas.
Entre as investigações mais relevantes destacam-se:
Wang, Y. (2023) – Role of Vagus Nerve Stimulation in the Treatment of Chronic Pain
Tanaka, S. (2022) – Clinical perspectives on vagus nerve stimulation: present and future
Andrade, M.F. et al. (2024) – Transcutaneous vagus nerve stimulation effects on chronic pain: systematic review and meta-analysis
Pavlov, V.A. & Tracey, K.J. (2005) – The cholinergic anti-inflammatory pathway
De acordo com estas investigações, a estimulação do nervo vago pode ser realizada de diferentes formas. Além das técnicas clínicas específicas, existem também abordagens naturais capazes de potenciar o mesmo efeito regulador, como a respiração profunda e ritmada, o relaxamento consciente, o toque terapêutico e o movimento suave e intencional.
Todas estas práticas contribuem para ativar o sistema vagal, reduzindo a inflamação, diminuindo a percepção da dor e promovendo um estado de equilíbrio global (físico, emocional e fisiológico).
Manter o nervo vago ativo é, portanto, uma estratégia essencial para controlar a inflamação e reduzir a dor crónica.
A Osteopatia Integrativa, ao trabalhar esta conexão entre corpo, sistema nervoso e equilíbrio interno, vai além da intervenção física: atua na regulação sistémica, favorecendo o bem-estar global e a auto-regeneração natural do organismo.
Se sente que o seu corpo tem vivido em estado de tensão, dor ou desequilíbrio, uma consulta de Osteopatia Integrativa pode ser o primeiro passo para recuperar harmonia e vitalidade.
Na Integrativa, cada sessão é um convite ao corpo para reencontrar o seu ritmo, restaurar a comunicação interna e regressar ao seu estado natural de equilíbrio.
David Brandão | Osteopata e Fisioterapeuta
Especializado em Psiconeuroimunologia Clínica
Cédula Fisioterapeuta: 3652 | Ordem dos Fisioterapeutas // Cédula Osteopata: C-0031697 | ACSS
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Artigos de referência
Andrade, M. F., et al. (2024). Transcutaneous vagus nerve stimulation effects on chronic pain: systematic review and meta-analysis. Pain Reports.
Christo, P. J. (2015). Review of the Uses of Vagal Nerve Stimulation in Chronic Pain Management. Current Pain and Headache Reports.
Pavlov, V. A., & Tracey, K. J. (2005). The cholinergic anti-inflammatory pathway: an integrative mechanism in immune regulation. Brain, Behavior, and Immunity, 19(6), 493–507. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2005.04.013
Tanaka, S. (2022). Clinical perspectives on vagus nerve stimulation: present and future. Clinical Science (London), 136(18), 1327–1342.
https://doi.org/10.1042/CS20220088Wang, Y. (2023). Role of Vagus Nerve Stimulation in the Treatment of Chronic Pain. Neuroimmunomodulation, 30(4), 245–256.
https://doi.org/10.1159/000528946