Meias no frigorífico? Pode ser um sinal de algo maior.
Parece extremo, mas encontrar objetos em locais improváveis pode ser um alerta. Antes das meias no frigorífico, talvez tenha sido o telefone esquecido no trabalho, a panela no fogão sem supervisão ou o comando da televisão na cozinha. Pequenos esquecimentos podem parecer inofensivos, mas quando se tornam frequentes ou progressivos, devem ser levados a sério.
A memória não é um processo único, mas sim um conjunto de sistemas interligados. Podemos dividi-la, de forma geral, em memória de curto prazo e memória de longo prazo. A memória de curto prazo permite-nos reter informação temporariamente, como um número de telefone antes de o marcarmos. Já a memória de longo prazo guarda informações por períodos mais extensos, desde factos e experiências de vida até habilidades motoras que aprendemos ao longo do tempo.
O problema surge quando um destes sistemas começa a falhar. Se a memória de curto prazo for afetada, pode tornar-se difícil reter informações novas, como instruções recebidas momentos antes. Se a memória de longo prazo for comprometida, experiências passadas ou conhecimentos adquiridos podem perder-se. Alterações na memória não ocorrem apenas em demências como a Doença de Alzheimer, mas também em condições neurológicas como a Esclerose Múltipla, a Doença de Parkinson, os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), traumatismos cranioencefálicos e até a Depressão.
É aqui que a Neuropsicologia se torna fundamental. Através da avaliação neuropsicológica, é possível compreender qual o tipo de memória que está mais comprometido e quais as funções cognitivas que ainda se encontram preservadas. Com base nessa informação, são desenvolvidas estratégias personalizadas para estimular o cérebro e maximizar a autonomia da pessoa no seu dia a dia.
A intervenção neuropsicológica pode atuar tanto a curto como a longo prazo. No curto prazo, foca-se em estratégias compensatórias para minimizar o impacto das dificuldades diárias. Isto pode incluir o uso de agendas, lembretes e técnicas específicas para melhorar a retenção de informações. No longo prazo, através do treino cognitivo, trabalha-se a estimulação das áreas do cérebro responsáveis pela memória, de forma a atrasar o declínio e a potenciar a reorganização neuronal.
O treino cognitivo não é uma cura, mas sim uma ferramenta essencial para prevenir e preservar as capacidades cognitivas. O seu objetivo é atrasar o declínio da memória e de outras funções cognitivas, ajudando a manter a qualidade de vida durante mais tempo. Estimular o cérebro regularmente através de atividades estruturadas pode fazer a diferença, permitindo que a pessoa mantenha a sua independência e funcionalidade ao longo dos anos.
Se tem notado dificuldades de memória, o primeiro passo é procurar um médico para garantir um acompanhamento adequado. Após a consulta médica, a avaliação neuropsicológica permitirá identificar os desafios específicos e definir um plano adequado de treino cognitivo. A memória pode não ser eterna, mas pode – e deve – ser cuidada.
Madalena Borges da Costa | Psicóloga
Integrativa | A saúde e o bem-estar como um estilo de vida
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